Um pouco de arte, cultura, desenho, poesias e outras coisinhas mais. Meu blog, minhas idéias e trabalhos.
Quando eu era pequeno o meu pai trouxe para casa uma cachorra Dálmata. Ela se chamava Laica e quando veio não era mais filhote, devia ter aproximadamente um ano de idade. Ela era muito tranqüila e dócil. Não teve filhotes, apesar de termos tentado cruza-la com outro cachorro da mesma raça. Gostava muito daquela cachorra. Acho interessante quando algumas lembranças do passado retornam em fatos completamente novos. Hoje tenho outro cachorro Dálmata chamado Tom, mas este é bem diferente da Laica. O Tom é um espoleta!
No sábado passado procurei executar um trabalho que há algumas semanas planejava, era uma pintura em aquarela do Tom. O resultado é este que aqui apresento. Também aproveitei a ocasião para documentar os principais passos para auxiliar aqueles que gostariam de aprender a pintar em aquarelas.
Passo-a-passo
Como o meu cachorro é muito agitado não consegui fazer um trabalho de observação, pois ele gosta de correr, pular e brincar. Então a minha melhor alternativa foi apelar para uma fotografia de referência. Pintar por uma imagem é algo que sempre evito, pois perde-se o contato com a realidade. A fotografia sempre será uma reprodução, não a realidade. Ao menos o cachorro estava na porta do estúdio, para eu observar.
Abri a fotografia no computador - vamos preservar a natureza evitando impressões desnecessárias –, comecei a delinear a lápis o espaço no papel que seria utilizado, também acertando a composição, as formas, as sombras e as luzes. Sempre devemos fazer um estudo prévio, mesmo que um simples esboço a lápis. Isso ajuda no enquadramento e geralmente utilizo um grafite HB.
Depois deste planejamento, marquei onde estariam as luzes que eram as partes do papel que não deveria pintar. Estas áreas são as mais importantes pois o aquarelista não utiliza tinta branca, simplesmente deixa parte do papel sem pintar. Esta é uma das principais características da aquarela.
Primeiro pintei uma camada de sombra bem transparente e gradativamente apliquei outras mais intensas. Para a primeira cor de sombra do pelo utilizei uma mistura de preto com azul cobalto e um pouco de amarelo ocre para esquentar a sombra. Cuidado ao utilizar a mistura de azul com amarelo ocre pois o resultado é verde!
Nas sombras mais escuras eu acrescentei um pouco mais de preto e azulcom pouca água. Para as pintas utilizei o preto, azul cobalto e carmim. O resultado é um tom escuro e bem quente. Aproveitei o mesmo e fiz outros detalhes, como os olhos e o nariz do cachorro.
No fundo utilizei uma cor mais escura, para ressaltar a luz. O alto contraste é um artifício interessante, deixando as luzes muito intensas.
Pintar este trabalho foi bem rápido, não gastei mais que trinta minutos, contudo a preparação para ele ocorreu em um pouco mais de três semanas. Após a fotografia fiquei pensando como iria resolver e então quando parei para pintar tudo foi muito rápido, só precisando fazer um esboço de referência.
A aquarela é uma técnica que há muito aprecio e já há alguns anos venho treinando. Este foi o meu estudo de número #360, ainda restam mais quarenta até eu chegar na meta das quatrocentas aquarelas.
Trabalhos com tintas e linhas soltas é algo que tenho feito com certa intensidade. Não que seja o meu estilo preferido, ou a estética que busco. Mas é algo que me deixa solto, libera a minha mente e o meu traço. Gosto de trabalhar a céu aberto. Neste trabalho estava sentado em uma praça em frente ao Bosque Maia, em Guarulhos.
A cidade de São Paulo possui aspectos belos em suas linhas arquitetônicas, dos prédios do estilo do começo do século vinte e também dá harmonia das linhas retas e limpas do estilo moderno. Nos bairros de Moema e alguns outros bairros nobres da zona norte, a arquitetura é acompanhada por ruas arborizadas e perfeitamente limpas. Mas o belo é acompanhado por um lado triste, porem digno nesta grande cidade que é São Paulo.
Em certas ocasiões, andando pela cidade percebo trabalhadores puxando uma grande e pesada carroça com rodas de automóveis e feitas com ferros. São os catadores de recicláveis que outrora eram simplesmente chamados de "Catadores de Papelão". Eles percorrem as ruas e recolhem qualquer material jogado que possa ser reciclável. Depois levam este material a um depósito e recebem algum dinheiro.
O quilo de cada material tem um preço. O papelão é barato e para juntar um quilo é preciso muitas caixas. O alumínio é valioso e se conseguir vender muitas latinhas de refrigerante dá um bom dinheiro. Eles também recolhem plásticos, vidros e outras quinquilharias que para ninguém mais serve. Isso garante algum dinheiro. Alguns trabalham em ruas movimentadas, outros moram na periferia, como nos bairros parque dos Pinheiros, jardim Fontális e tantos outros.
O catador é geralmente uma pessoa solitária. Alguns não possuem um lar para se abrigar nas noites de chuva e de frio, e isso os obriga a procurar albergues para passar a noite, ainda assim, quando encontram vaga. Estão sempre em companhia de um cachorro vira-lata, que anda lado a lado com a carroça e somente pede um pouco de água e de comida. É o fiel companheiro do catador de recicláveis.
Qual é o futuro destes trabalhadores? Acredito que nem eles o sabem. Mas o trabalho do catador de recicláveis é digno, porém, pouco remunerado. Eles retiram das ruas o lixo que pode ser reciclados, garantem matéria prima barata para as indústrias e poupam os recursos naturais do planeta. Assim também, vão de papelão por papelão, ou de latinha por latinha garantindo o seu limitado sustento e também do seu cachorro.